Quanta coisa nasce nas lixeiras

Menina que não sabia ler via amontoados de letras e rabiscos os quais não compreendia, mas hoje, graças à mãe, faxineira de escola particular que levava livros e jornais do lixo para casa, é amante desvairada, ama literatura e cultiva paixão pelo jornalismo. Pés descalços e coração altivo, mãos pequenas, mas fortes, proteção dos encantados — força natural para minha cultura — e da natureza, foi assim que aprendeu a ler, ao lado do mandacarú, com livros antes descartados.

Edições velhas de jornais impressos espalhados pela casa em que cresceu foram responsáveis por incitar vontade e desejo de seguir tal estrada, com o sonho de ver textos publicados naquelas páginas. Este anseio não parece estar longínquo, estou sentada, a escrever crônicas. Sim, caro leitor, sou ela e ela sou eu. Algumas vezes, confesso que belisco minha perna, para me certificar de que existo nesse ambiente.

Ademais, convido você a prestar mais atenção às lixeiras, talvez aquilo que você precisa está dentro de um saco plástico prestes a ser descartado para sempre, basta que você o encontre. Porque, no fundo, há beleza silenciosa em tudo que é resgatado do abandono. Há vida nas margens, poesia no que é esquecido. Fui encontrada por palavras que ninguém mais quis. Talvez seja por isso que as trato com tanto cuidado, como quem segura algo frágil e precioso.

Joana  Truká, 19
Jornalismo
Pular para o conteúdo