Sons e letras

Nem só de livros e mesas para consultá-los vive a Biblioteca Central da Universidade de Brasília. O Clube do Vinil completa dois anos de existência em 2024 e acontece em quintas-feiras alternadas, ao meio-dia, no Auditório 1 da BCE. Nele, membros da comunidade acadêmica e outros entusiastas da música escutam e discutem álbuns disponíveis no acervo de Coleções Especiais (Colesp). 

​De acordo com Marcelo Scarabuci, idealizador do clube, a iniciativa surgiu da necessidade de divulgação do acervo da Colesp, que contém mais de três mil exemplares de variados gêneros musicais, como rock, música regional, reggae, jazz, funk e gospel. Para aqueles interessados em escutar música em discos de vinil, é possível realizar empréstimos ao visitar o setor de Coleções Especiais da biblioteca.

​Os encontros são conduzidos por membros da comissão coordenadora e, na maioria das vezes, um convidado. Ao início, os dois contam a história do álbum escolhido e da banda ou cantor que o compôs. Em seguida, o público escuta o disco em uma das vitrolas fornecidas pela Colesp e discute a obra entre faixas.

​Também advindo do acervo de coleções especiais, o Cineclube — que exibe e debate filmes no auditório da BCE toda quarta-feira às 12h — foi inspiração para o modelo. O Cineclube, conhecido como Cineart, operou entre 2006 e 2008 e foi reativado em junho de 2022. A proposta é ampliar a exibição de filmes, promover debates e contribuir com o conhecimento produzido pela universidade ao destacar temas que são pesquisados dentro da perspectiva cinematográfica. 

​O Clube do Vinil surge como ponto de encontro para muitos que estão em contato pela primeira vez com vitrolas. Em encontro realizado no dia 1º de agosto, Elvys Barros, estudante de filosofia, destacou: “Vinil é a oportunidade que temos de furar a bolha do Spotify”, ou seja, o clube não inspira apenas novos entusiastas a explorar diferentes formatos, como também oferece alternativas ao universo digital. Assim, o clube, além de promover a união de estudantes universitários e membros da comunidade externa por meio da música, serve como ponte para o mundo pré-digital.

​O Clube do Vinil conta com apoio de diversos outros membros que têm garantido a manutenção do projeto durante esses quase dois anos. Dentre eles, destacam-se Nathália Telles, Elvys Barros e João Nascimento. No entanto, a história desses três ultrapassa o Auditório 1 da Biblioteca Central. 

​Nathália Telles, estudante de filosofia, esteve presente no primeiro Clube do Vinil e participou da composição do formato das reuniões. Cantora e fã de Rita Lee, pôde performar a canção “Ovelha negra” na reunião de fim de março de 2023, quando os álbuns Fruto Proibido e Tutti Frutti, de Rita Lee, foram debatidos. Barros mediou os quatro últimos encontros. O papel dele é guiar a conversa entre convidado e ouvinte e auxiliar com material de apoio — slides com letras de canções, imagens ilustrativas dos tópicos abordados etc. ​​

​Em 2023, durante sarau, Telles e Barros subiram ao palco com alguns músicos da banda do pai da cantora. Os dois tocaram músicas d’Os Mutantes, ela, no canto, e ele, no violão, com acompanhamento do baixista Leonardo Araújo. Após apresentação, os três passaram a se reunir para tocarem juntos na casa de Telles e convidaram Nascimento, baterista, e Iuri Costa, guitarrista. 

​O grupo composto pelos cinco foi chamado de Os Ordinários. Juntos, compuseram canções como “Charuto com piré”. Além das composições próprias, os músicos também criaram versões inusitadas para músicas conhecidas, dentre elas versão valsa de “Gostava tanto de você”, de Tim Maia, e adaptação punk de canções de Pixinguinha. 

​Os Ordinários exemplificam a conexão que pode surgir da música, enquanto o Clube do Vinil demonstra a integração advinda de escutá-la. Cícero Muniz, pós-graduando em sociologia na UnB e frequentador do Clube do Vinil, afirmou: “Acho essa iniciativa muito interessante porque promove a integração das pessoas. Percebo uma falta de atividades como essa na UnB onde, às vezes, ficamos muito dentro dos nossos próprios departamentos. Divulgar essa forma de contato com o que é produzido dentro da universidade é muito importante”. 

Joana Pantoja Costa,  18
Jornalismo
Pular para o conteúdo