A singularidade das preferências musicais

 

Antes de começar a escrever este ensaio, toquei flauta transversal por uma hora. Fazia certo tempo que não botava as mãos no instrumento, e definitivamente o som não foi tão bom quanto na época em que tocava regularmente. O sentimento ao tocar, no entanto, continuou o mesmo. A música sempre esteve presente em minha vida, fator muito importante para a formação de quem sou. A quarta arte é intrínseca e muito influente na vida humana. Chega a ser difícil trazer em palavras o que sinto sobre ela, mas acho que muitas pessoas entendem como sensações são movimentadas quando melodias e ritmos tocam.

Também há algo que é claro: cada indivíduo tem o próprio gosto musical. Muitas vezes, porém, esta característica individual torna-se razão de desprezo. Há pessoas que parecem não conseguir aceitar opiniões muito divergentes. Contudo, a predileção por certas músicas é formada por experiências individuais, por recortes sociais: amizades podem influenciar os artistas pelos quais alguém mais tem gosto, cultura de onde a pessoa veio influencia no que gosta de ouvir, família também possui papel na formação de opiniões. Quando não se é feito por obrigação, a maioria das coisas que alguém consume vem de pressuposto de que gostará daquilo. Raymond Cartell, estudioso da área da psicologia, acreditava que a preferência musical indica aspectos importantes da personalidade, mas não é, claro, o único fator que interfere.

O aspecto cultural da música é forte evidência da diferença entre preferências musicais, além da faixa de idade. Estilos como o rock e o rap sofrem preconceito de massas mais conservadores por estarem em contexto de rebeldia, revolução. O funk brasileiro, outro exemplo, veio da favela, e muita aversão gira em torno dele. A música clássica, também, causa estranhamento em pessoas que não estão acostumadas com o estilo. Existem, evidentemente aqueles que conseguem se habituar com muitos gêneros diferentes. A questão é: alguém pode ter gosto musical bastante abrangente, mas ainda assim será singular, diferente de outros.

É importante também frisar que a música pode ser utilizada em diversos contextos. Quando quero dançar ou me animar, não escolherei som que remete à melancolia, por isso possuo gama de opções em mente para incontáveis momentos. Canções são utilizadas para lazer, expressão individual, dança, concentração, terapia… enfim, muitas situações se encaixam na utilização da arte.

Tantas singularidades em torno da música deveriam conscientizar de que não há certo ou errado quando se trata dela, mas sim de que existe a individualidade, a situação, as diferenças. A sociedade é plural, e a intolerância com preferências musicais não deveria ser tão evidenciada. Não vejo como problema realmente preocupante e que afete verdadeiramente a vida de alguém, mas ainda enxergo incômodo em sentir-se envergonhado ao se expressar sobre o que gosta. Sinto que, para mim, música é algo cotidiano, então não quero evitar falar sobre ela com medo de julgamentos, e acredito que outros se sentem assim. O importante, afinal, é entender e respeitar o próximo.

Juliane Scheidt de Cristo, 18
Publicidade e Propaganda
Pular para o conteúdo