História
- As origens
- Em tempos de ditadura
- A Redemocratização
- Criação da Faculdade de Comunicação
- Depoimento de Pompeu de Sousa
Texto extraído do projeto de criação da Faculdade de Comunicação coordenado pelo seu ex-diretor, professor José Luiz Braga
A história do Curso de Comunicação confunde-se com a própria história da Universidade de Brasília. Reflete, com maior ou menor intensidade, os dramas vividos pela Instituição em geral. Criada segundo uma concepção pioneira e inovadora, o projeto inicial da UnB foi brutalmente interrompido pelos acontecimentos políticos resultantes do governo militar instalado no País em 1964. Nesse momento já existia um curso de Jornalismo em funcionamento, o embrião de da Faculdade de Comunicação de Massa.
O projeto da Faculdade de Comunicação era inovador para a época. Quando a maioria das instituições de ensino oferecia habilitação em Jornalismo, o projeto de Pompeu de Sousa previa uma Faculdade composta por três escolas: uma Escola de Jornalismo, uma Escola de Publicidade e Propaganda, e uma de TV, Rádio e Cinema. Funcionando em íntima associação com a Faculdade, embora independente dela, seria criado um Centro de Teledifusão Educativa da Universidade de Brasília – CETUnB – para práticas de laboratório da Faculdade.
Era intenção desenvolver o estudo não apenas sobre as práticas consagradas pelos meios e atividades de comunicação existentes, mas também a pesquisa de fórmulas novas e criativas de comunicação. A proposta consistia em oferecer uma formação humanística e científica interdisciplinar. Esse projeto foi interrompido com as mudanças que aconteceram na UnB em 1964. Seguiu-se um período crítico, marcado pelo medo, ameaças, perseguições e prisões de alunos e demissões de professores.
Em 1966, recomposto precariamente o quadro de professores, mas dentro de um quadro político de restrições à liberdade que perduraria por muitos anos, foi implantada a Faculdade de Comunicação, sintomaticamente sem a expressão “de Massa”. O estatuto da nova Faculdade estabelecia genericamente como seus objetivos formar profissionais, docentes e pesquisadores, e incrementar a pesquisa no campo da Comunicação.
Os cursos de graduação implantados foram de Jornalismo, Publicidade, Relações Públicas, Cinema, Rádio e TV. O primeiro curso de pós-graduação apenas nasceria muitos anos depois, em 1974. A nova Faculdade se inseria dentro de um projeto de universidade diferente: no lugar do espaço de liberdade, uma ordem institucional centralista e autoritária; em vez de uma universidade comprometida com mudanças sociais, uma universidade modernizada segundo os parâmetros conservadores.
Nesse período, todavia, produziu-se um retrocesso institucional: a Comunicação perde o ‘status’ de Faculdade, transformando-se em Departamento, vinculado à Faculdade de Estudos Sociais Aplicados, onde passou a conviver com os departamentos de Direito, Administração e Biblioteconomia, com os quais tinha pouca afinidade.
Embora a situação fosse adversa, a partir de 1970 o Departamento conseguiu avanços significativos: ampliou suas instalações, adquiriu material e equipamentos, e aumentou seu corpo docente. Observa-se ainda que, mesmo não havendo espaço para propostas socialmente avançadas, a Comunicação recupera o discurso critico.
Um documento produzido pela Chefia para o Encontro de Revisão e Planejamento, em 13 de setembro de 1972, dizia: … “A pesquisa e a busca de novas fórmulas de comunicação é imprescindível num processo didático dinâmico. Devemos também manter a preocupação de formar profissionais socialmente conscientes, capazes de aprender todo o potencial contido nos vesículas e técnicas da comunicação, como instrumento de desenvolvimento da nação”.
Aos poucos o Departamento começa a dar os primeiros passos fora do campus. O primeiro foi o inicio, em julho de 1974, do Programa de Mestrado, com o apoio da Embrapa, da CIDA (órgão oficial canadense) e do CRUCIA (um consórcio de universidades norte-americanas). Esses convênios permitiram a vinda de professores para reforçar a equipe do Mestrado, assim como a ida de professores da FAC para cursos de pós-graduação no exterior. O outro acontecimento importante foi a realização, em 1975, na UNB, do I Seminário Latino-Americano de Comunicação, sobre “Comunicação a Desenvolvimento”, do qual participaram especialistas de renome nacional e internacional.
Paralelamente, o Departamento fortalecia sua imagem na área de Cinematografia. Com muita obstinação e lutando contra todo tipo de limitações, professores realizavam curta e longas-metragens, vários deles premiados em mostras e festivais de cinema importantes.
Em que pese a conjuntura adversa, o Departamento entra nos anos 80 com um balanço positivo de sua existência. Seu quadro de professores se fortalece com a volta dos que foram fazer cursos no exterior, o Programa de Mestrado apresenta um razoável acervo de teses e seus professores continuam a produzir artigos em revistas e livros, e também filmes. Esse trabalho repercute nacional e internacionalmente. Dezenas de profissionais formados desempenham funções de relevo em grandes meios de comunicação ou exercem papel de liderança nas associações de classe da categoria.
Em 1984, a UnB começa a viver o clima da mudança que empolga o País e as universidades. Cresce o movimento de reação à velha ordem autoritária. Professores, alunos e funcionários do Departamento têm um papel destacado nessa luta, cujo desfecho será a eleição do novo Reitor pela comunidade, em 1985.
O Departamento de Comunicação é o primeiro a admitir em seu Colegiado um representante dos funcionários. Nessa fase de luta pela redemocratização, o jornal Campus, do curso de Jornalismo, passa por reformulação, adquire então sua forma moderna e passa a praticar um jornalismo de nível profissional. Freqüentemente matérias publicadas no Campus tiveram repercussão nos grandes meios de comunicação.
Em 1985 e 1986, o Departamento de Comunicação se liga a dois outros importantes acontecimentos: a criação do Centro de Produção Cultural a Educativa – CPCE – e o projeto da Rádio UnB. No primeiro caso, através de um de seus professores, teve participação decisiva na elaboração da estratégia e nos entendimentos que levaram a renegociação do convênio UNB – Fundação Roberto Marinho, liberando-se assim a verba necessária à implantação do CPCE (nos termos antigos do convênio, a totalidade desse recurso seria destinada à Fundação Roberto Marinho, funcionando a UnB como mera intermediária).
No caso da Rádio UnB, foram os alunos do Departamento, secundados por professores, que tiveram um papel de liderança na luta pala concessão do canal, afinal frustrada pala decisão – estritamente política – do Ministério das Comunicações de não conceder o canal educativo que havia sido especialmente criado por solicitação da Universidade. Mas assa frustração é apenas provisória: graças ao esforço de mobilização e de criação de uma consciência na comunidade universitária e de Brasília em torno da necessidade e da justiça da reivindicação da UnB, a concessão do canal será inevitável, mais cedo ou mais tarde. O projeto, elaborado com a participação de alunos e professores da Comunicação, reconhecido como de alta qualidade técnica pela Funtevê, foi apenas adiado.
Com reorganização da Universidade, professores do Departamento de Comunicação iniciaram uma série de reuniões e debates em torno da proposta de criação da Faculdade de Comunicação. Havia necessidade de conquistar a autonomia administrativa por vários motivos: crescimento do número de alunos, necessidade de promover reforma curricular e obter maior agilidade na execução de projetos acadêmicos.
Em 1989, o Consuni aprova o projeto de criação da Faculdade de Comunicação, apresentado pelo então diretor José Luiz Braga. A proposta preservava a estrutura básica de uma Faculdade na UnB, com seus órgãos executivos e deliberativos, porém adaptada às condições peculiares da Comunicação.
A Faculdade surge com estrutura bi-departamental: Departamento de Jornalismo e Departamento de Audiovisuais e Publicidade. Além disso, o projeto aprovado previa uma administração descentralizada, através das diversas instâncias como as Coordenações da Graduação, Pós-graduação e Extensão; Chefias de Departamentos; Sistemas de Laboratórios.
A criação da Faculdade de Comunicação teve efeito catalisador sobre as energias de professores, funcionários e estudantes. Nos anos seguintes começaram as discussões sobre reforma curricular que culminaram com a proposta implantada em 1993. Posteriormente os currículos foram reformulados em 2003 e revistos em 2008, vigorando até o momento.
“O embrião do Departamento nasceu com a própria Universidade. Antes da implantação das primeiras unidades da estrutura permanente da UnB, foi decidida a criação do que denominamos Cursos-Tronco para atender a demanda de ensino superior dos jovens cujas famílias haviam se transferido para Brasília.
Os Cursos-Tronco foram, assim, uma espécie de embrião híbrido de institutos centrais e faculdades, abrangendo, portanto, os estudos básicos e as disciplinas profissionalizantes, conjuntamente. Instalados os três cursos-tronco – um de Letras, outro de Direito, Administração e Economia, e o terceiro de Arquitetura e Urbanismo (os únicos possíveis, dada a inexistência não só de equipamentos como de instalações, pois funcionávamos no prédio, então vazio, do Ministério da Saúde) – o curso de Jornalismo começou-se a implantar, já no primeiro semestre de 1962, no curso-tronco de Letras.
Na verdade, nessa altura mesmo, o projeto de criação da Faculdade de Comunicação de Massa estava já concebido, proposto e aprovado pela Fundação Universidade de Brasília. Dadas as deficiências de toda natureza, o seu início de implantação só começou a se tornar possível a partir de meados de 1963, embora nossas atividades docentes houvessem sido transferidas para o Campus já a partir do segundo semestre de 62, num misto de utilização das primeiras instalações permanentes e, sobretudo, em galpões de madeira. Além disso, a disponibilidade de pessoal docente, com um nível de competência desejado e exigido por nós, era mínima, senão inexistente, e a possibilidade de atração de professores de outros pontos do país somente possível a médio prazo, dada a inexistência de unidades básicas habitacionais em Brasília. Contudo, ainda em 63, já foi possível, não só expandir a capacidade docente do curso de Jornalismo, como atrair os primeiros mestres em torno dos quais se criariam as demais unidades da Faculdade de Comunicação de Massa.
O plano original da Faculdade – dada a multiplicidade da ocupação que nos atropelava em absoluta contradição com a extrema carência de tempo – foi, todo ele, formulado e aprovado pelo Conselho da Fundação através de nossa exposição oral e, na verdade, só pôde ser apresentado sob forma escrita, logo depois do golpe militar de 64, quando a Universidade sofreu intervenção de seus órgãos dirigentes e os diretores das várias unidades tiveram que apresentar ao Reitor ‘pro-tempore’, Professor Zeferino Vaz, relatório sobre suas respectivas áreas de atuação. Nesse relatório, é que se encontra o plano global da Faculdade e suas unidades auxiliares, além dos respectivos currículos.
A estrutura definitiva da Faculdade de Comunicação de Massa compor-se-ia de três escolas: uma Escola de Jornalismo, uma Escola de Publicidade e Propaganda, e uma de TV, Rádio e Cinema. A divisão do trabalho acadêmico entre as três unidades não se basearia na diversidade dos meios e veículos, pois estes seriam sempre os mesmos em quaisquer delas: o jornal, a revista, o rádio, a TV e o cinema, essencialmente.
Além disso, nós tínhamos o projeto de implantação de uma unidade complementar denominada “Centro de Teledifusão da Universidade de Brasília”, com o caráter de instituição autárquica para que pudesse atender a plenitude de seus ambiciosos propósitos.
O Centro deveria editar um jornal diário, do qual pretendíamos tirar edições simultâneas em Brasília, São Paulo e Rio e, talvez mais tarde, em outras capitais; editar igualmente uma revista de informação interpretada – gênero que só surgiria no Brasil alguns anos depois; criar e manter uma agência de publicidade e propaganda; criar e manter uma estação de rádio, uma estação de TV, e uma produtora cinematográfica.
Estes vários veículos seriam utilizados, academicamente, no que chamávamos de ‘laboratório-verdade’, em que a formação profissional dos estudantes não seria à base de laboratório de faz-de-conta, mas no próprio exercício profissional, sob a supervisão e responsabilidade de execução dos professores.”